segunda-feira, 1 de junho de 2009

HISTÓRIA - PRIVATIZAÇÃO DE FURNAS - 1997 - Documentos da História Recente XIV

Nada como o tempo para mostrar que algumas iniciativas são verdadeiros saltos no escuro, mas, quando lançadas, parecem sedutoras.

Há 12 anos, em meados de 1997, em pleno governo FHC, surgiu a idéia neoliberal de privatizar algumas empresas estatais federais do setor elétrico e Furnas foi uma das primeiras a ser cogitada.

Apareceram logo diversas “soluções salvadoras”: um grupo achava que o melhor era dividir Furnas em duas empresas, para “favorecer a competitividade”; outro grupo preferia manter a empresa unida, seguindo a tendência de verticalização e vendê-la de uma só vez; uma terceira alternativa, que seduziu muita gente combativa, foi a de pulverizar as ações no mercado, mantendo a União como acionista majoritário.

O governo FHC acabou e nada foi feito, graças à luta de “Davi contra Golias”, encabeçada pelo ILUMINA, criado em 1996, acompanhado por diversas entidades da sociedade civil organizada.

Os registros ficaram para nos lembrar “quem era quem”.

Publicamos inicialmente notícias veiculadas pelo jornal O Globo em 22/7/97. Certamente teremos outras para reavivar nossa memória.

O GLOBO 22.07.97

SUPERINTENDENTE DE FURNAS É CONTRA DIVISÃO EM 2 BLOCOS PARA VENDA

RIO, 22 - O secretário Nacional de Energia, Peter Greiner, acredita que a privatização de Furnas em dois blocos, conforme propõe o relatório da Coopers & Lybrand, favorecerá a competitividade do setor, além de aumentar o potencial de arrecadação da União. Ele ressaltou porém, que a matéria ainda será alvo de análise do Conselho Nacional de Desestatização (CND), mas que, na avaliação do Ministério de Minas e Energia, é importante que o modelo de venda vise a competitividade do mercado.

O secretário que participou hoje de debate promovido pela Coppe, na Casa da Ciência, no Rio de Janeiro, foi rebatido pelo superintende de Furnas, Paulo Afonso Pegado, na questão da venda da empresa. Pegado defende que Furnas seja vendida como um todo, sob o risco do país andar na contramão da tendência do mercado, que é de verticalização.

A própria Coopers & Lybrand defende nos Estados Unidos a verticalização das empresas. Porque o seu relatório propõe a desverticalização do setor elétrico brasileiro? Só se for para depois cobrar de novo para nos ensinar a verticalizar - criticou Pegado.

No trabalho elaborado pela consultora americana, a proposta é de que Furnas seja dividida em dois blocos, um formado pelas usinas localizadas ao longo do Rio Grande e outro formado pelas demais usinas. O relatório propõe o mesmo tratamento para a Chesf, que seria dividida em dois blocos, um com quatro mil megawatts e outro com cinco mil megawatts. Eletrosul e Eletronorte, entretanto, seriam vendidas em bloco.

O superintendente de Furnas questionou também vários outros pontos do relatório da Coopers & Lybrand, principalmente sobre a criação de um mercado "spot" para a comercialização de energia. Na opinião de Pegado, deveria ser criada uma bolsa de negociações, que daria maior transparência à comercialização de títulos de energia.

Não consegui entender ainda como o mercado "spot" será uma garantia de energia mais barata, pelo menos como ele está descrito no trabalho da consultora americana argumentou.

BNDES DIZ QUE VENDA DE FURNAS EM BLOCO ÚNICO NÃO FERE COMPETIÇÃO

RIO, 22 - O assessor da vice-presidência do BNDES, Danilo de Souza Dias, discorda da posição do secretário Nacional de Energia, Peter Greiner, sobre a venda de Furnas em dois blocos, segundo indicação do trabalho elaborado pela consultoria Coopers & Lybrand. Para ele, a venda em um único bloco seria mais rápida e não comprometeria a competição do setor.

Lembrando que a decisão sobre a venda de Furnas caberá ao Conselho Nacional de Desestatização (CND), Dias afirmou que não há porque adotar a indicação da consultoria americana.

- Vender a empresa separada em cinco mil megawatts e três mil megawatts não me parece diferente do que vender oito mil megawatts juntos, só no fato que atrasaria o processo de privatização - afirmou.

O assessor, que participou hoje de debate promovido pela Coppe, na Casa da Ciência, no Rio de Janeiro, observou que a única divisão que deve ser defendida é a da geração e da distribuição. Segundo ele, se os dois setores fossem vendidos juntos, o potencial de investimentos seria reduzido.

- Os investimentos em geração são fortes no início e na distribuição precisam ser feitos ao longo do período de concessão. Se unir os dois setores para a venda, com certeza os investimentos serão menores, porque o empresário terá que aplicar muito em geração avalia Dias.