sexta-feira, 28 de novembro de 2008

INTOLERÂNCIA NO PLANETA FORTÚITO

MELODRAMA EM UM ATO E DUAS CENAS
Olavo Cabral Ramos Filho - Janeiro 2007

Personagens:

- Palestrante.

- 50 clérigos de religiões teistas diversas.

- Um monge budista.

- Um Brâmane.

CENA 1


Um auditório muito moderno em anfiteatro. Cerca de 50 cadeiras. Todas ocupadas por clérigos católicos, ortodoxos gregos, pastores de várias denominações, rabinos ortodoxos e mullahs. Um só monge budista e um brâmane estão no auditório. A grande mesa no palco do auditório está ocupada por um só homem vestido com uma calça vermelha e camisa negra.
Os assistentes totalmente imóveis.

Palestrante: Atentem para um acontecimento que nos força a diagnosticar um acaso. O nosso planeta não poderia estar numa órbita mais conveniente. Melhor ainda, a curva elíptica dessa órbita é quase um circulo. Imaginem se a órbita fosse uma elipse muito alongada. A probabilidade de um inicio de vida seria muito baixa ! Nosso planeta não poderia estar em distância mais conveniente da estrela sol. Ele nem sempre esteve nessa órbita e nessa distância. Mas há alguns bilhões de anos, nem a órbita nem distância variaram muito. Não esqueçam também que nosso planeta, como Vênus e Mercúrio, não mostra sempre a mesma face virada para o sol. Ele gira com uma conveniente velocidade de rotação. Uma rotação completa a cada vinte quatro horas. Sempre foram 24 horas? Não. Há 4,5 bilhões de anos um grande impacto ejetou um pedaço da Terra. Formou-se a Lua. Por muito tempo a Lua girou em órbita muito mais próxima. Algo como cento e tantos mil quilômetros. O tempo de rotação muito menor que as confortáveis 24 horas. Pelas crateras lunares com as quais o homem convive com prazer estético, podemos dizer que nosso satélite foi um aparador de asteróides, salvando a Terra de muitos impactos. Por muito tempo as gigantescas ondas de marés sacudiram os oceanos criando condições para a conjugação molecular em direção ao aparecimento de vida orgânica. Ao contrário de tantos outros planetas do próprio sistema solar – que dizem vocês do gigantes gasosos – ou de Vênus com seu super efeito estufa há bilhões de anos? Ou Marte, digamos, com sua inviabilização precoce para vida...

Nesse momento dois assistentes, aleatoriamente, levantam-se . Fazem interjeições ininteligíveis e saem. O palestrante não interrompe. Continua sem notar o movimento.

Palestrante: ... Quantas vezes a vida pode surgir no nosso planeta. Um astro de sorte
(levanta a voz ao falar sorte)...

Mais dois assistentes grunhem, levantam-se e saem.



Palestrante: ... Quantas vezes a vida apareceu e foi extinta por causas lentas ou bruscas. Quatro ou cinco bilhões de anos atrás, aconteceram intensos bombardeios de asteróides e pequenos astros sólidos. A vida ficou difícil. De repente no sistema solar, ainda jovem, aconteceu um período de relativa paz cósmica, permitindo o florescimento de vida. Cada vez mais somos capazes de conhecer e descrever cientificamente (levanta a voz ao falar cientificamente) a história do nosso planeta...


Levantam-se e saem mais assistentes. Dessa vez o grunhir de desagrado foi mais alto.

Palestrante: ... Assim passaram-se outros bilhões de anos entre ressurgimentos e extinções. E assim continuou o planeta. No final do Permiano, há duzentos e cinqüenta e um milhões de anos, outra vez no final do Triássico, há duzentos e um milhões de anos a vida foi extinta. Parcialmente por sorte. Essas foram extinções com causas mais lentas. Há sessenta e cinco milhões de anos, de repente, um impacto de um asteróide de dez quilômetros de diâmetro causou em poucos dias uma extinção da vida vegetal e dramaticamente de uma biomassa de seres animais com tamanhos nunca mais repetidos..

Mais assistentes, agora silenciosamente, mas com gestos irados, saem.

Palestrante:... Foi esse asteróide caído onde hoje está a península de Yucatan no México que, podemos afirmar ter sido uma bela ironia do destino..... Mas lembrem-se que ironia do destino é uma imagem muito metafísica para o meu gosto.....

Mais assistentes saem, agora com grandes gritos e insultos de protesto,

Palestrante;...Enfim o asteróide nos permitiria descrever, com angustiantes dúvidas, um cenário de viabilização dos mamíferos na Terra e , consequentemente, milhões de anos depois, dos primatas, dos diversos hominídeos, do homo erectus, do homo sapiens de mais de uma espécie simultânea e do homo sapiens sapiens....

A audiência se agita. Gritos possessos. Bater de pés no chão. Frases em latim, grego, aramaico e hebraico vociferadas. Sae mais um grupo, antes passando na frente da mesa do palestrante e ameaçando-o.

Palestrante: ... (tossindo, engasgando, tomando água)... Posteriormente devem ter acontecido períodos de boa paz cósmica. Mas outros asteróides menos criminosos caíram. As marcas de alguns se tornaram quase invisíveis para o homo sapiens sapiens sem possibilidades de voar e ver a Terra de cima. Hoje, do ar e de órbita as marcas – e são muitas – deixam o homem preocupado com a possibilidade de repetições traumáticas. Algumas explosões de cometas ou pedaços de cometas deixaram marcas florestais efêmeras. Mas, ressalvadas as diversas glaciações, o mamífero homem viveu razoavelmente bem. Comeu muita proteína animal que, permitiu, dizem alguns pesquisadores, um consistente aumento do volume e da massa do cérebro...

Sae mais um grupo cantando e gesticulando ameaças.

Palestrante: ... Nada pôde ser provado sobre a impossibilidade de cruzamento fértil entre a espécie Neandertal instalado na Europa e o homo sapiens sapiens que em hordas lá chegou. Negros ao chegarem......

Debandada irritada de pastores evangélicos. Insultos onomatopaicos muito violentos.

Palestrante: ... Negros ao lá chegarem, conviveram com aquela robusta espécie que sobreviveu ao frio da última glaciação, mas pouco a pouco desapareceram da face do planeta, como disse, podendo ter deixado descendência caso possa ser diagnosticado que se cruzaram com os sapiens sapiens. Nós cientistas não conseguimos ainda provar nada. Como sabem isso não nos causa angustia. Continuando: é muito curto o período de tempo ao qual dedicamos o estudo da história do homem e seus ancestrais mais próximos no passado. Nenhuma extinção significativa. Meras extinções localizadas como a explosão do vulcão de Santorini. Naqueles anos da idade do bronze na Europa, o efeito da explosão não foi sequer notado. Ou foi pelo fato de verões sucessivos terem sido mais frios. Acostumamo-nos com a impressão, ate muito recentemente que macro extinções não acontecerão, quando os efeitos da atividade humana, sobretudo nos últimos cem anos, despertou uma quase certeza apriorística num apocalipse a curto prazo. Quase certeza, pois não conseguimos nos libertar do otimismo do século XIX nos destinos do homem. Pior, as massas religiosas só fazem aumentar. E continuarão a aumentar na medida em que o pavor da hiper crise aumentar. Enquanto isso as placas tectônicas continuarão a se mover. A África e a Europa continuarão a se afastar das Américas no inexorável movimento que pode resultar no agregamento de um novo super continente. A Lua continuará a se afastar algo com um centímetro por ano. O favorável campo magnético inverterá sua polaridade norte-sul-sul-norte muitas vezes, causando sérios problemas para a vida nos períodos de tempo que antecederem a inversão.
Num período de dezenas, centenas e milhares de milhares e bilhões de anos, conceito temporal que, no fundíssimo das nossas consciências, é encarado como irreal, o que acontecerá na evolução do homo sapiens sapiens ? Nossos cérebros crescerão ou diminuirão? Ou a extinção pela infertilidade das mulheres ou a impotência dos machos? Nossa massa muscular? O comprimento dos nossos dedos? O tamanho do coração? Ou essa aceleração da exponencial, a curto prazo, dos aquecimentos e dosagens de gases contra produtivos, acompanhados da perda total da linearidade na evolução dos fenômenos e acontecimentos, nos possibilitará uma extinção inédita? Inédita por ser, pela primeira vez, o resultado de nossas próprias aventuras...

Na audiência, diversos clérigos ficaram de pé enquanto o palestrante falava, demonstrando irritação. Esses e outros tantos saem, mais uma vez ululando impropérios.

Palestrante: ... aventuras perigosas que, certamente, ao serem perpetradas, fizeram-nos deixar de levar em conta a sorte do planeta, como registrei no inicio desta palestra, com sua órbita tão favorável em torno do Sol, sua rotação de tão convenientes 24 horas, sua translação em tão simpáticos 365 dias, a inclinação do seu eixo ainda mais conveniente para a saudável sucessão das estações de cada ano. E mesmo que ficasse provado que as proto moléculas da vida tivessem chegado somente com os impactos de asteróides de tamanhos variados, devíamos ter uma alegria cósmica dessas moléculas terem, em dezenas de bilhões de anos, possibilitado a nossa existência. E essa alegria, sem complementos crescentemente religiosos, tornar-se suficiente para nossa vida feliz e solidária, sem deuses e sem patrões, mesmo quando novos impactos mecânicos, radioativos , eletro-magnéticos, ou o evento final do Sol super nova. Nessa hipótese seria tão rápido que nossa extinção nem mesmo seria precedida de um período de barbárie...

Saem os últimos clérigos. Nível elevadíssimo de gritos e ameaças. No auditório restam sentados somente o monge budista e o brâmane. Música ao fundo: a área da Rainha da Noite da Flauta Mágica. Escuridão.

CENA 2

O Palestrante fica sentado imóvel. Começam a entrar, aos pares, todos os clérigos que haviam abandonado o auditório. Trazem braçadas de lenha. Colocam-nas em volta da mesa, em cima da mesa, por todos os lados da mesa, em volta do palestrante. Saem todos. Retorna um grupo de clérigos de denominações diversas, paramentados nos seus trajes mais luxuosos. Trazem tochas acesas. Apregoam em coro.

Coro: Nosso veredicto está decidido. Purificação pelo fogo por tantas imprecações heréticas, vociferações e manifestações demoníacas. Rodeiam a mesa acendendo a lenha. O monge budista e o brâmane correm com extintores.


Cortina

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

The Poet William - O. Goatbranchson

Whether had he known
Jeckill and Hyde?
The first truly bad,
The second defined evil
By those who have
Power on earth.

And Richard or Richard,
Which were good or bad ?
An ancestor political-gangster
With a mother who said:
You came into this world
With your legs ahead.